Apesar do incrível apreço do time de Phil Parkinson pelas jogadas de cruzamento e chuveirinhos, não é esse o motivo do título dessa coluna. Futebol se joga mesmo com a cabeça. É um quase primo do xadrez. Cada movimento é friamente calculado, já dizia o vermelhinho. Um passo em falso é um gol perdido, um vacilo é um gol tomado.
Os treinos não são só para os músculos. Cérebro também é corpo. E também se cansa. O Wrexham passa pelo segundo momento de baixa na temporada, com alguns sinais de alerta em relação ao desempenho. Estamos a caminho da 29ª rodada, encarando maratonas de jogos num calendário apertado por jogos adiados e copas, e uma hora o cansaço acumulado ia pesar.
Nessa temporada, nossa produção ofensiva tem sido o suficiente para conseguir alguns pontos em placares magros sustentados por uma defesa sólida. Temos um plano de jogo claro e que vinha sendo bem executado, apesar de não muito vistoso. Mas nas últimas dez rodadas a coisa começou a desandar e resultados negativos começaram a aparecer.
Fui analisar com mais calma os motivos da queda de desempenho e encontrei o principal deles: a tomada de decisão. Com frequência temos visto nossos jogadores perdendo o timing do passe ou escolhendo a pior opção para receber. É nessa hora que o lançamento se transforma em chutão e o Palmer perde a briga entre dois ou três defensores ou o Mullin não chega na bola. O time tem demonstrado grande dificuldade em terminar suas jogadas. E quando termina, geralmente desperdiça, porque escolhe chutar ao invés de passar, prender a bola ao invés de tabelar, tocar pra trás ao invés de cruzar. A afobação dos jogadores é evidente. Além disso, com cabeça e pernas cansadas, os erros de execução aparecem mais. Em algumas situações, temos falhado domínios e passes simples.
O futebol é um cobertor curto. Se o time se posiciona para atacar, corre pra frente e devolve a bola ao adversário, pode ser pego desorganizado na hora de defender, sendo forçado a tomar decisões arriscadas. Nos últimos 10 jogos de liga sofremos 13 gols. Antes disso, eram apenas 11 em 18 partidas.
Observei esses gols sofridos e a grande maioria teve origem em jogadas de transição porque entregamos a bola tomando decisões erradas, algumas delas em lances bobos. Nas últimas 3 derrotas, para Barnsley, Shrewsbury e Stevenage (a primeira dentro de casa), 7 dos 7 gols sofridos aconteceram por consequência de uma jogada não terminada, uma bola entregada ou um bote mal feito num momento ruim. Os adversários não precisaram se esforçar muito para nos derrotar, nós mesmos oferecemos as chances.
Precisamos colocar a cabeça no lugar. Não só pra fazer o gol ao invés de finalizar pra fora, mas para saber lidar com essa fadiga, ajustar os erros e enfrentar a intensa reta decisiva até o final da temporada. Boa parte dos jogos-chave vai acontecer fora de casa, onde temos um desempenho ruim. Nesse tipo de jogo, geralmente ganha mais quem erra menos, concentração e calma são fundamentais.
O Wrexham já mostrou, nesse e em anos anteriores, um poder de reação muito grande em momentos importantes, garantindo bons roteiros pra série. Essa é a hora de garantir mais uns bons episódios para a próxima temporada.