Como joga o Wrexham de Phil Parkinson

Conheça o modelo de jogo desse time que pode conquistar seu terceiro acesso seguido.

O Wrexham está a 10 jogos do final da temporada regular e deve disputar ponto a ponto com o Wycombe a vaga direta para subir de divisão. Nessa reta decisiva muita gente nova chega na comunidade ou começa a acompanhar mais os jogos. Pensando nisso, resolvi fazer um pequeno resumo do modelo de jogo do time comandado pelo Phil Parkinson, pra quem tem interesse em conhecer mais de perto essa equipe vitoriosa.

Mas como assim modelo de jogo? Para quem nunca ouviu falar ou não conhece esse conceito do futebol, ele representa os padrões de comportamento de um time como um todo de acordo com as situações de jogo, e costuma ser popularmente chamado de “esquema tático”. O modelo de jogo envolve o desenho tático do time nas diferentes fases do jogo, mas para além do posicionamento dos jogadores, envolve também as movimentações, associações e instruções de como agir conforme os cenários. É ele que faz com que um time funcione como um time, como um organismo. É o que mantém o equilíbrio, a organização e a consistência da equipe e é a partir dele que os jogadores treinam.

O modelo de jogo geralmente é definido a partir das características dos jogadores do elenco, e os elencos são formados e aprimorados a partir dele, é sempre uma via de mão dupla, um processo que se retroalimenta. Ele contempla os conjuntos de comportamentos que é esperado de um jogador e as posições e papéis que ele deve ocupar em cada fase do jogo para que um time funcione coletivamente. Uma partida de futebol pode ser dividida em quatro momentos principais com bola rolando: Organização Defensiva, Transição Ofensiva, Organização Ofensiva e Transição Defensiva. Em cada uma delas o time segue uma série de padrões para trazer as soluções possíveis para seus desafios.

Abaixo deixo um resumo de cada uma dessas fases dentro da organização do Wrexham, junto com um vídeo explicando cada momento e mostrando os desenhos em campo. Lembrando que são padrões de organização, como um ponto de partida para o pensamento coletivo dos jogadores, mas que se ajustam a cada partida e respondem de acordo com as situações de jogo.

Organização Defensiva

Representa o momento em que o adversário tem a bola e o time defensor está postado para tentar recuperar a posse. O Wrexham se defende num 3-5-2, com 3 zagueiros, 2 alas que, dependendo da pressão e do posicionamento do adversário, ora fecham a linha de 5 atrás, ora compõem uma linha com os 3 meias, e 2 atacantes. Os atacantes fazem o balanço de acordo com o lado da jogada para fechar as linhas de passe, enquanto o restante dos jogadores mantém a estrutura defensiva. Os meias e alas fazem o balanço e avançam para pressionar no setor da bola, enquanto os zagueiros e primeiro volante fazem a proteção do espaço e marcam as ameaças mais avançadas. O time geralmente marca num bloco médio pra baixo, mas varia bastante conforme o momento do jogo e a estratégia escolhida, podendo pressionar com linhas altas quando vê a oportunidade.

Transição Ofensiva

É o momento em que a equipe recupera a bola, quando faz a passagem entre ser o time que defende para o time que ataca. Isso envolve também os contra-ataques, mas não só. Nessa fase o Wrexham geralmente busca resolver a jogada o mais rápido possível para pegar a defesa adversária desorganizada, saindo da pressão curta pós-perda ao mesmo tempo que tenta contra-atacar. Esse contra-ataque busca geralmente uma corrida de ruptura do nosso centroavante ou do ala/ponta mais avançado atacando as costas da defesa. Quando não, pode atacar carregando a bola, ou buscando tabelas curtas, mas sempre muito rápido e para a frente. Mas isso depende do momento do jogo, se a jogada de contragolpe for muito arriscada e o time não estiver atrás do placar, geralmente a equipe não força o passe e procura uma situação mais confortável de ataque.

Organização Ofensiva

É o momento em que o time tem a bola e a defesa adversária está organizada. Costuma ser dividido em três fases – a primeira fase de construção, a segunda fase ou criação de jogada, e o terço final ou fase de finalização. Em todas elas, o Wrexham busca resolver da maneira mais direta possível, o que geralmente resulta em menor posse de bola. É comum vermos partidas em que o time é dominante, finaliza bastante, sofre pouco e tem 30% de posse.

O Wrexham faz uma saída de jogo de 3+1, com os zagueiros bem abertos, sendo um central que sustenta e dois que avançam um pouco mais pelos lados, mais o meia central que busca dar apoio à saída se oferecendo como opção de passe ou flutuando nas costas da pressão. Os alas e os meias mais avançados que ocupam os corredores internos se posicionam conforme o lado da jogada e o desenho do adversário, mas geralmente tem a função de criar espaço para oferecer linhas de passe que possam quebrar a primeira pressão e levar o jogo pra frente. Um atacante fica com a função de baixar para gerar jogo e tentar arrastar as linhas e o outro com a função de segurar um zagueiro e atacar os espaços nas costas da defesa a partir dessas movimentações.

Pela característica dos seus jogadores, o Wrexham costuma atacar mais pelo lado direito, então os jogadores desse lado ficam mais espetados e o zagueiro pela direita avança com mais frequência. Esse comportamento se repete quando a jogada é feita pelo outro lado.

O time busca criar suas jogadas geralmente em duas situações. Uma delas, e talvez a mais frequente, é buscar triangulações pelos lados do campo, envolvendo os alas em associação com os zagueiros e meias, até chegar ao último terço e fazer um cruzamento ou uma jogada de infiltração. Quase sempre o time termina esse tipo de jogada em um cruzamento, e quase sempre vindo do lado direito, já que esse ala costuma ser o mais avançado. A outra jogada acontece no passe direto, seja em lançamentos longos buscando uma casquinha do centroavante ou uma corrida nas costas da defesa do atacante ou dos alas, seja em passes rasgando por dentro, buscando um pivô ou os meias mais à frente.

Essas situações funcionam bem quando o adversário marca em bloco médio pra baixo, quando dá tempo de girar a bola e movimentar a defesa. Quando o time está pressionado e com dificuldades para sair, os jogadores buscam essas mesmas jogadas, só que muito mais rápido ainda. Isso resulta em um monte de chutão que deixa a comunidade Wrexham Brasil subindo pelas paredes.

Transição Defensiva

Essa é a hora do deus-nos-acuda, quando o time perde a posse de bola e tem que se defender. Nessa fase, dependendo do momento do jogo, o Wrexham costuma deixar uma “defesa da sobra” com os três zagueiros mais o primeiro volante, sendo que geralmente esse volante e o zagueiro do lado da jogada ficam mais avançados. Ao perder a bola, esses jogadores tem a função de manter a solidez da linha, identificar as ameaças e controlar a profundidade. O zagueiro mais centralizado fica na sobra, enquanto os zagueiros abertos e o volante buscam neutralizar as ameaças. Do meio pra frente, o time faz um perde-pressiona imediato no setor da bola para tentar recuperar e para ganhar tempo para o restante da equipe se recompor.

Esse é um resumo (bem grandinho até), mas acredito que dá pra ter alguma noção de como funciona o time, além de compartilhar alguns conceitos técnicos com quem não tem acesso a esse tipo de estudo. No vídeo dá pra visualizar melhor o que acontece com os desenhos dentro de campo. Futebol é um jogo complexo e cada vez mais detalhado, mas é cada vez mais rico e bonito de acompanhar. Mesmo quando o jogo é feio, esses pequenos jogos de xadrez que acontecem em cada parte do campo oferecem um bonito espetáculo pra quem gosta desse olhar mais atento.

Tem sido muito bom acompanhar a evolução desse time ao longo das últimas temporadas e cada vez estamos mais próximos de dar mais um salto de qualidade. Bora torcer com tudo que temos nesses últimos 10 jogos que na temporada quero analisar esse modelo de jogo de novo com muito mais reforços e mais desafios a enfrentar.

Fontes: análises das partidas completas ao longo da temporada.

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