A liga começou pra valer e o Wrexham tá pra jogo. Nosso início de temporada vem superando as expectativas, mostrando um time bem preparado, jogando com maturidade e construindo resultados importantes contra adversários fortes e organizados. Porém, como era de se esperar, nas últimas rodadas vivemos os primeiros momentos de desconforto no campeonato. E eu gostei da maneira como o Wrexham lidou com eles.
Sofremos nossa primeira derrota para o Birmingham na casa deles, entre os seus muitos milhões de libras e um belo estádio bem cheio. Fizemos um bom primeiro tempo, mas o segundo foi bastante frustrante, a qualidade do adversário prevaleceu e a contratação mais cara da liga, Jay Stansfield, não nos perdoou.
Já na rodada seguinte, no último sábado, conseguimos nos recuperar e, mesmo jogando mal, vencemos o Crawley Town no Racecourse Ground num jogo que se desenhou perigoso, com bastante sufoco, sustos e mais vontade do que bola, mas vencemos.
Estive revendo e analisando esses dois jogos e pude notar algumas dificuldades que o time apresentou. Vou falar de duas delas, por enquanto. A primeira é uma velha conhecida, a defesa do entrelinhas, daquele espaço que fica entre os volantes e a linha defensiva. Na temporada passada sofremos bastante com isso quando enfrentamos equipes com jogadores que flutuavam da posição e saíam da referência. Atacantes que começavam colados nos nossos zagueiros e baixavam pra buscar a bola e meio-campistas que vinham de trás e infiltravam faziam um terror danado em cima da gente. Isso sempre gerava dúvida em quem acompanhava quem e aí até alguém decidir era um abraço. Nessa temporada o time tem conseguido ajustar isso bem, mas contra Birmingham e Crawley passamos alguns apertos assim.
Nosso trio de meio subia pra fazer pressão e fechar as linhas de passe e isso aumentava bastante o espaço entre eles e os zagueiros, que sustentavam a linha de defesa. Os adversários souberam explorar bem isso nos contextos das últimas partidas. Quando os atacantes e meia-atacantes se descolavam da marcação dos nossos zagueiros, eles ficavam em dúvida entre acompanhar ou defender o gol. Ao mesmo tempo, os volantes e zagueiros construtores do adversário avançavam ou até mesmo trocavam de posição com os homens de ataque. Aí enquanto Dobson tentava fechar o meio ou recompor, Cannon e Lee ficavam em dúvida entre marcar quem avançava ou proteger as costas. Quando o adversário quebrava a primeira pressão, com frequência a jogada terminava em perigo ou finalização nesse cenário.
Precisamos aprimorar essas coberturas, mas dentro de campo o time já mostrou que é capaz. Contra o Crawley no sábado teve um momento em que pudemos ver nossos zagueiros perseguindo quem se mexia até o meio-campo e nossos meias e alas fazendo bem a cobertura. É questão de ajuste, treino e tempo. Outro ajuste que precisa ser feito é na marcação feita pelos nossos atacantes. Palmer e Mullin davam muita liberdade pra quem avançava e isso contribuía pra sobrecarregar as linhas atrás.
O segundo fator que atrapalhou nesses jogos foi nossa dificuldade na construção. Enfrentamos uma boa marcação mais alta em alguns momentos e tivemos problemas em sair dessa pressão, quase sempre devolvendo a bola para o adversário. O time buscava seu estilo de jogo mais direto e os passes não encaixavam. Erramos na execução, nos domínios, nos pivôs, na coordenação dos movimentos. McClean e Lee não se entendiam, Mullin e Palmer ou perdiam a bola ou tocavam pra trás e até Barnett estava errando cruzamento. Consigo contar pelo menos um ou dois erros técnicos de cada um de nossos jogadores de linha. O adversário apertava pra forçar o erro e a gente entregava. Em todo jogo vai ter erro, é normal, mas nessa partida foi um pouco a mais.
E construindo com menos pressão, também não fomos muito felizes. O adversário marcou bem os lados e nos faltou repertório para enfrentar isso. Nosso modelo de construção é direto e pelos lados, quase sempre. A gente gira a bola de um lado para o outro com apenas o trio de zaga e Dobson recuados, até abrir espaços por algum dos lados. Aí buscamos chegar ao gol o mais rápido possível, com corridas, lançamentos ou tabelas, terminando geralmente em cruzamento ou uma jogada cortando pra dentro, mas sempre construindo pelo lado. Quando nosso adversário consegue impedir esse tipo de construção, a gente não anda sabendo o que fazer. Contra o Crawley, em vários lances, ficava um buraco enorme no meio e nossos jogadores nem consideravam a jogada por lá, a não ser que fosse um passe direto pro pivô do Palmer ou Mullin, que não contavam com opções de apoio. Talvez seja interessante considerar mais o jogo curto pelo meio em situações como essa, porque temos bastante qualidade em Dobson, Lee e Cannon pra fazer isso.
Apesar dos pesares, estamos mais vivos do que nunca. Numa partida difícil, depois de uma derrota, encontramos soluções dentro do jogo e fizemos o suficiente para vencer com algo que temos de melhor: a jogada de escanteio. Mostramos variedade de jogadas, inteligência na ocupação de espaços e bastante firmeza na hora de brigar pela bola dentro da área. Marcamos contra o Birmingham num cruzamento fechado do O’Connor no segundo pau, que sobrou pro Marriott e repetimos a mesma jogada abrindo o placar contra o Crawley com um bonito chute do Lee. No gol que garantiu a vitória de sábado, depois de um rebote de escanteio, dominamos outra vez o espaço aéreo com um cruzamento de GPS do Dobson, também no segundo poste, pra testada precisa do Cleworth no contrapé do goleirão. Sofremos, mas brigamos até o fim e mostramos que temos recurso na hora do aperto, mesmo quando perdemos.
Futebol é isso, dias de tranquilidade e golaço e dias de canelada e suor. O time é aguerrido e sabe o desafio que enfrenta. O treinador tem confiança e sabe o trabalho que faz. É seguir no foco e usar o que se tem pra entregar o melhor que dá dia após dia. Bora pra próxima e segue o líder. Semana que vem tamo de volta pra trocar mais ideia por aqui.